Estaleiro faz campanha e anúncio em jornais para contratar 1.200 pessoas.
Oportunidades de emprego atraem executivos de outros estados.
Manuela Thiba, descendente de japoneses nascida em Bragança Paulista (SP), pode dizer que foi bem sucedida durante os 6 anos em que morou e trabalhou na cidade de Toyohashi, na região central do Japão.
Lá, ela aprendeu a profissão de soldadora e alcançou todas as certificações possíveis para uma profissão, que, em média, paga salários mais altos do que a maioria dos serviços executados por brasileiros que moram naquele país.
"Eu enfrentava preconceito por ser mulher. Quando fui me habilitar para uma das certificações nem havia a opção de colocar 'mulher' na ficha de inscrição. Tiveram que fazer uma outra ficha para mim", diz ela, que atuou na solda de navios e pontes durante 5 anos.
Mas foi uma proposta para trabalhar em Ipojuca, no litoral de Pernambuco, que despertou nela o desejo de voltar para o Brasil. "No Japão, cheguei no nível máximo que poderia chegar. Dali pra frente seria muito difícil por ser mulher e estrangeira", conta Manuela.
Ipojuca foi um dos destaques na geração de vagas de emprego formais em 2010, segundo dados do Ministério do Trabalho. Em dezembro, a cidade criou 1.376 vagas com carteira assinada, o que a deixou em terceiro lugar no ranking. Em todo o ano passado, foram 16.413 vagas, levando Ipojuca ao 19º lugar na lista do ministério.
A vinda definitiva de Manuela ocorreu depois que ela participou de processo seletivo organizado no Japão Estaleiro Atlântico Sul (EAS), empresa instalada no Complexo Portuário Industrial de Suape e que tem como acionistas os grupos Camargo Corrêa e Queiroz Galvão.
Manu, apelido pelo qual é chamada pelos colegas e que estampa o uniforme que ela usa em seu expediente diário nas soldas dos navios, foi 1 dos 135 soldadores dekasseguis que foram contratados desde o segundo semestre de 2009. No ano passado, a empresa enviou uma gerente de recursos humanos ao Japão com uma missão: voltar com soldadores especializados e experientes na bagagem.
A necessidade de contratar mão de obra experiente fora do Brasil se deve ao curto prazo para atender às encomendas de navios e do casco da plataforma P-55, da Petrobras. O João Cândido, primeiro navio fabricado pelo estaleiro, deve ser entregue em março para a Transpetro, braço logístico da Petrobras.
A escassez de profissionais qualificados é uma das principais dificuldades enfrentadas atualmente em Ipojuca e toda a região de Suape (veja mais no vídeo acima), que luta para transformar trabalhadores canavieiros em operários tecnicamente capacitados - consequência do crescimento acelerado da economia da região, que também resultou em falta de moradias.
O paulista Euclides Minoru Yamaoka, 41 anos e pai de três filhos, foi o primeiro dessa leva a chegar a Suape, em agosto de 2009, depois de 19 anos de imersão na cultura e na rotina profissional japonesas. O recomeço no Brasil, recorda, foi cheio de estranhamentos e adaptações. "O japonês é muito técnico, detalhista. Brasileiro é mais indisciplinado", analisa.
O retorno foi motivado principalmente pela preocupação com o futuro, que o fez aceitar a proposta de emprego mesmo por um salário menor - em Ipojuca, o salário médio de um soldador é entre R$ 2,5 mil e R$ 3 mil.
"Lá eu ganhava a hora trabalhada. O que me preocupava era aposentadoria, apesar de estar pagando o INSS aqui. Quem vive com INSS? O que iria fazer quando não conseguisse mais trabalhar?" Hoje, diz que seus filhos e a esposa já se habituaram ao clima e idioma. "Eles gostam mais daqui do que de lá", conta.
Campanha em outros estados
Para sanar as persistentes dificuldades de contratação em 2011, o estaleiro adotou nova estratégia. Desde 2 de janeiro, colocou anúncios em jornais de Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Amazonas, Pará e Bahia. O objetivo, desta vez, é contratar 1.200 funcionários entre soldadores, montadores, engenheiros, projetistas e supervisores de produção. Atualmente, o EAS tem 4700 empregados.
Na tentativa de "roubar" empregados de outros centros para atuar em Suape, o estaleiro investe em benefícios e facilidades de transferência, como auxílio moradia, ajuda de custo para a mudança e chance de entrevista de emprego para familiares.
Trabalho e qualidade de vida
A oferta de trabalho abundante é chamariz também para profissionais especializados que ocupam cargos de gerência e chefia, como Paulo Ferreira, 56 anos, de São José do Rio Preto (SP). Ao longo da carreira ele já morou em grandes centros, mas optou pela região de Ipojuca em busca de mais qualidade de vida e, principalmente, porque queria morar perto da praia.
O trabalho, no entanto, pesa na decisão: ele é gerente comercial da argentina Impsa Winds, fabricante de geradores de energia eólica que investiu US$ 25 milhões em Suape em 2007.
"Aqui amanhece muito cedo e eu consigo ir à praia todos os dias", comemora. "Pernambuco tem alguns problemas de infraestrutura e serviços, mas a comida é ótima".
Em vez de morar em Recife, como fazem muitos dos executivos que vêm das grandes metrópoles para trabalhar em Suape, optou pela vida de balneário: mora em Enseada dos Corais, uma das faixas litorâneas de Cabo de Santo Agostinho, cidade vizinha de Ipojuca.
O contador Elder de Souza, 38 anos, saiu de Campinas há um ano para ser gerente financeiro da mesma empresa. Desde então mora em Recife, onde a esposa acaba de abrir um consultório odontológico, e diz que a atual rotina é mais agitada.
"Recife tem um ritmo mais intenso do que a maioria das cidades do interior de São Paulo. No acesso a Suape, por exemplo, eu perco mais tempo no trânsito do que perdia em Campinas", diz Elder, que, no entanto, está satisfeito com a adaptação da família e as perspectivas de crescimento. "A região está crescendo muito. Há espaço para bons profissionais".
Fonte: G1 (Ipojuca - PE) por Ligia Guimarães
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