quarta-feira, 27 de junho de 2012

Morte de brasileiros em Nagano revela situação difícil de quem passa dos 50 anos

monte fujiBrasileiro, pouca fluência no idioma japonês e mais de 50 anos de idade. Com poucas opções de emprego, trabalhadores com esse perfil têm se arriscado mais

A morte de dois brasileiros durante demolição de uma antiga fábrica na província de Nagano revela um problema que tem se tornado comum entre trabalhadores estrangeiros. Brasileiro, pouca fluência no idioma japonês e mais de 50 anos de idade. Com poucas opções de emprego, trabalhadores com esse perfil têm se arriscado mais.

“No dia a dia a pessoa vai se submetendo a trabalhar em trabalhos mais perigosos, mais difíceis”, afirma Carlos Ishikawa que reside faz 20 anos em Nagano. Essa era a situação dos dois brasileiros que morreram no incêndio ocorrido semana passada, em uma antiga fábrica de cogumelos.

Lorival Giranda, 50 anos, e Domingos Alves, 52, moravam na cidade de Ina. Estavam desempregados, quando foram convidados por outro brasileiro para fazer o trabalho de demolição em Azumino. Viajavam uma hora de carro todos os dias. Outro morador antigo na província, Celso Hirata que vive há 22 anos em Nagano, conta que “infelizmente, como as fábricas não dão oportunidade, a única maneira de conseguir alguma coisa é fazendo esse tipo de serviço perigoso, mais longe, mais distante das casas”.

Era um serviço temporário de duas semanas. Terça-feira, 19, seria o último dia de trabalho. Mas aí houve o incêndio. O brasileiro que fez o convite teve queimaduras leves. Os corpos de Lorival e Domingos foram encontrados carbonizados, no interior da fábrica. Clima de indignação e revolta na cremação de Lorival. O mesmo acontece entre amigos e familiares de Domingos, que só foi identificado pela polícia de Azumino através de exames de DNA.

“Ele estava parado, foi trabalhar em Toyohashi (Aichi), voltava só de final de semana. A família ficava aqui, e apareceu essa oportunidade de fazer um arubaito. Por instinto, você tem que trabalhar, não pode ficar parado. E ele foi trabalhar nesse arubaito”, relata Spetson Serikawa, vizinho de Domingos.

Segundo vizinhos da fábrica, o local estava desativado havia dez anos. ¨Levei um susto com o incêndio, disse uma senhora. Ela tinha percebido a presença de estrangeiros, mas nunca trocou palavras com eles para saber o que faziam dentro da fábrica. A presença de estrangeiros na região tem diminuído nos últimos anos. Carlo Di Polto que trabalha com mudanças diz que “de Nagano, as pessoas tem deixado a província por causa do salário, pela dificuldade de serviço. Então eles têm procurado outras regiões com maior demanda de serviço”.

Quem ficou, diz que pensa na família e se sujeita às condições do mercado de trabalho.

“Você chega, vai trabalhar e é orientado na hora. Muitas vezes recebe instrução de dez minutos e vai trabalhar, então isso é muito perigoso. As pessoas estão se expondo bastante, principalmente nessa região. Tem vários casos de pessoas que se machucaram aqui na nossa região”, comenta Serikawa.

Segundo o sub-delegado de Azumino, as investigações continuam para saber em que situação os brasileiros trabalhavam no dia do incêndio. De acordo com o corpo de bombeiros, o fogo teria sido provado pela combustão de várias substâncias acumuladas no depósito.
Fonte: IPC Digital com JPTV

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